domingo, 21 de fevereiro de 2010

Mais uma cena eclesiástica e blásfema

Há tempos atrás, encontrou-se dentro de uma catedral em estilo gneticista, um papiro com os seguintes versos, que provam a existência de uma divindade dentro de uma divindade ou, no mínimo, duma farsa ou mal-entendido dentro de uma estória:
"Volta o Jeremias arrependido/com suas orelhas tão fartas/com seu osso roído/e com o rabo entre as patas"

Sala de Jantar, mesa posta, fartura de comida e vários convidados e cospidores de fogo.

APRIMÉRIO: Palavras não podem expressar o esplendor de ter uma presença tão esperada que une todos apóstolos em um só, assim como o monitor, o processador, memória, teclado e mouse formam um computador moderno que sequer existe em nossos tempos remotos. Graças a Jesus Cristo, o Messias, de volta do deserto.
JESUS: Amém, meu irmão, meu filho e pai. Aprendeste bem a mensagem que passo. Somos um só.
PEDRO: Um só, sim, mas por favor deixa este cordeiro fora disto, que a carne dele quase grita: 'Um só, não, desejo habitar o estômago de cada um presente." Do modo que comes ficaremos todos sem comer.
JESUS: Não te condescendes do fato de eu ter passado um longo jejum no deserto procurando respostas para todos nós?
PEDRO: Em meu coração habita meu amor por ti e teu feito, não meu estômago, que nada habita.
JESUS: Fazes qualquer coisa por mim?
PEDRO: Se dentre qualquer coisa fique de fora o jejum, faço.
JESUS: Pois tu me negarás três vezes.
PEDRO: Não, senhor. Nunca seria capaz.
JUDAS: Come do meu prato, Mestre.
JESUS: Não, obrigado, Judas, teus modos me enojam.
JUDAS: Sou todo serventia e é assim que me trata?
JESUS: E de que outro modo deveria ser? Faz três semanas que não lava as cuecas, a faca que usas para matar os carneiros é a mesma que usas para cortar batatas e limpar as unhas. Sê limpo, meu discípulo, e sê em mim.
JUDAS: Se é o que tens para mim, agarrarei o conselho. Mas, Mestre, não vai o Senhor transformar a água em vinho?
JESUS: Traze a água que poderás levar todo o vinho.

Um dos discípulos entregam água e Jesus põe as mãos na jarra.

JESUS: Agora bebam todos e sintam a sabedoria de um bom tinto judeu.

Todos tomam e cospem.

JESUS: Mas o que aconteceu? Os costumes agora são de tomar e cuspir para regar o rosto alheio?
APRIMÉRIO: Mestre, sem querer ofender, mas isso não é vinho.
JESUS: Em toda a história se duvida de um fato quando não se prova, pois agora duvidam depois da prova. Dá-me aqui um trago e tomarei prova do afirmado.

Jesus prova.

JESUS: Com efeito. O gosto é de licor de framboesa.
PEDRO: Não reclamo. Bem gostoso, tanto quanto vinho.
JESUS: Porém estranho, uma vez que não é vinho.
APRIMÉRIO: Esqueçamos, um atributo não se perde quando substituído por outro tão gracioso quanto o anterior.
JESUS: Assim seja. Vamos comer. Pedro, meu discípulo, me passa o blanquette de veau, por obséquio.
PEDRO: Negarei pela primeira vez, ainda não provei.
JESUS: Pedro, ainda se prende às paixões da comida, assim não poderás ver o reino de Deus.
PEDRO: Isso não funciona comigo, pelo menos não quando estou comendo, negarei ainda uma segunda vez.
JESUS: Pedro! Tu bem sabes como somos eu e meu pai quando a ira nos toca o espírito. Passa a vitela ou não mais comerás na Terra mas serás comido pela terra.
PEDRO: Se és piedoso em totalidade de ser, esperarás pelo menos eu acabar este prato antes de me reduzires a pó. Negarei uma terceira vez. Em definitivo.
JESUS: Pois bem! Judas, faz o que esperam que tu faça e mata este falso discípulo!
JUDAS: Não, Senhor. Eu tenho medo.
JESUS: Por essa eu não esperava. Fui negado quatro vezes.

Rumor de marcha fora da sala, entram soldados romanos.

SOLDADO: Qual aqui presente é o indíviduo que atende pelo pseudônimo de Jesus Cristo?
JESUS: Vê, se não te ofuscas meu brilho.
SOLDADO: Se isso quer dizer que é você, Pôncio Pilatos ordena sua presença no palácio.
JESUS: Enfim, minha redenção.

Sai com os soldados.

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