quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre Roupas.

Minha irmã faz moda.

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É. Roupa, legal.

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Roupas de marcas famosas, como Versace e Lacoste, são apreendidas na China, com suspeita da presença, em excesso, de formaldeído, algo que deve fazer mal ao sistema respirátorio. O embaixador da UE na China se pronunciou em forma de charada: "Será que nossas superempresas exportaram produtos defeituosos?/Não, não, acho que esses chineses piratearam também nossos ternos mais fabulosos".

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- Vamos logo, porra!
- Peraí, to trocando de roupa, você vai vestido como?
- Eu vou de preto.
- Ah, beleza, to de azul.
- Azul?
- É. Azul, por quê?
- Ih, cara, sei lá, o Azul tá tão em baixa.
- É mesmo? Quem disse.
- Parece que foi a última coisa que o Alexander McQueen falou antes de morrer.
- O que ele disse.
- Algo como "I hate blues".
- Só porque ele disse que odeia azul não significa que ele esteja em baixa.
- É, mas o cara morreu, sabe como são essas coisas relacionadas à fama: morte, holocausto, genocídio, a fama é dolorosa.
- Assim como Michael Jackson que, depois de morto, ganhou uma nota com esse novo contrato pornográfico.
- Fonográfico.
- Fonográfico.
- Já mudou de roupa?
- Já. Coloquei um pretinho básico.
- Eu tô de preto.
- Mas a minha blusa tem estampas.

Observação do Autor: Esse diálogo provavelmente nunca aconteceria entre homens. Apenas na ficção isso seria possível. O próximo diálogo, bem mais provável.

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- Vamos lá, matar esses filhosdaputaaaaaa!!!!
- Quem?
- Esses que parecem gansos!
- Ah, os ciganos. Me acostumei com o olhar de esquilo dos judeus.
- São esses, fogoooooo!
Muitos tiros.
- General!! Que tipos de roupas são aquelas?
- Eu fui construído para matar e não para comentar sobre roupas.
Uma bomba cigana explode próximo dos dois.
- General!! General!! Você está bem??
- Sim, filho, porém, estou nas últimas, minha hora se aproxima.
- General, você está nu. E pela aparência disso aqui, não ouso dizer que você seja da raça ariana.
- Droga. Mate algum soldado inferior e traga-me suas roupas.
- Não há ninguém aqui, eles recuaram. Entenda. No tempo do blog, não se passaram nem dez segundos, mas aqui no nosso tempo ficcional, passaram uns vinte minutos. Isso é um artifício literário, chama-se salto temporal.
- Isso é literatura?
- É sim.
- Deus me deu o que queria, pelo menos vou morrer nas páginas de um romance, como os personagens de Goethe, ou como nos conflitos de Brecht, ou nas boiolices de Thomas Mann.
- Não é bem assim, é mais como um conto de Gógol. Esse texto é publicado num blog lido por dissidentes manipuláveis.
- Ah, não, não diga isso, dissidentes não.
- Bem, tenho aqui um dissidente e um cigano mortos. Você quer se vestir como qual?
- Prefiro andar nu.
- Não. Isso é atentado ao pudor. Escolha um.
- Meu Deus, que pesadelo. Me dá as roupas desse cigano.
- Ótima escolha. Sabe como esse dissidente chegou aqui?
- Como?
- Ele achou de fazer amizade com o Kurt Vonnegut.
- Ele ainda aprende.

*****

- I'm dying, son. I'm really dying.
- No, you can't, Mr. McQueen, you still got millions of clothes to design.
- No, I want to die. It hurts, you son-of-a-gun.
- Eh, at least let me put some music. I think it's a nice way to die, listening to music.
- A nice way to die would be fucking like a goat.
- What did you say?
- Nothing. Put some music.
- Pick one. Muddy Waters, Howlin' Wolf, Willie Dixon, Albert King, may I play it on?
- Oh, noooooo, I hate blues.

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Este post é uma homenagem às grandes grifes europeias, ao governo chinês e sua eficaz rede de pirataria, ao Alexander McQueen, à Nikolai Gógol, à morte totalmente desonrosa do general nazista, nas páginas do Monte Pitão e vestindo roupas ciganas e, por fim, ao arrastado e monótono blues americano.

Um comentário:

  1. hahahahaaha. adorei!!!

    que lindo ler aqui sobre mcqueen... continue assim, hein??

    fez homanagem pra mim e pra mcqueen sem saber. adorei.

    (Rebeca A., sua sistá)

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