domingo, 21 de março de 2010

Op. 170

Múúúúúúúúúúúúúúúú

- O que foi isso?
- Nada.
- Eu ouvi um "múúúúúúú"
- Não, você não ouviu.
- Ouvi sim, eu não estou ficando louco.
- Está sim. Eu não ouvi e você ouviu então você é louco.
- Por que o louco sou eu? Não pode ser você?
- Não.
- Por quê?
- Por que não.
- Isso não é resposta e isso não chega nem a ser um diálogo.
- É sim.
- Não, não é.

Múúúúúúúúúúúúú

- De novo.
- Eu sei, eu sempre me passo nas tecelagens.
- Que tecelagens? Estamos numa sala em branco. Eu ouvi de novo.
- Bem, o autor não especificou onde estamos, estou tecendo.
- O quê?
- Não é da sua conta.
- Você não sabe o que está tecendo porque o autor não especificou.
- Eu apenas não quero dizer.
- Então por que não vejo fios de tecer?
- Por que você é cego.
- Não sou não... O que é isso? Eu não consigo ver.

Múúúúúúúúúúú

- Vá se fuder se não tiver ouvido dessa vez.
- O quê? Sua audição ficou aguçada porque você é cego agora.
- Pelo menos não sou impotente.
- Nem eu.
- É sim.
- Não sou. Cadê os fios de tecer? Devo ter deixado cair em alguma lugar.
- Estamos andando?
- Há dois dias, estamos procurando nosso acampamento, viemos fazer trilha na Dinamarca e nos perdemos quando fomos caçar perdizes.
- Como você sabe disso?
- Sabendo. Olha só quantas vacas. Ah, me desculpe. Escuta só quantas vacas.
- Estou escutando há séculos.
- Sério?
- Sim, temos 10 mil anos, somos estrelas.
- Do mar. Estamos no mar agora. Cuidado com os tubarões.
- Será que ficaremos muito tempo aqui?
- Acho que não. Até acabar este post, acho que acaba em pouco tempo.

Múúúúúúúú

******

Charles Berimbau era um francês chato e crítico de cinema no século XVIII, não tinha muito o que criticar. Havia poucos ou nenhum lançamento desse tipo de arte. Ele passava o tempo observando o movimento dos moinhos perto de sua casa. Era íncrivel. Até que chega seu vizinho, crítico de teatro.
- Ainda pouco movimentada?
- Não, está à toda velocidade.
- Digo sua vida, não o moinho.
- Ah, nem se importe em perguntar mais, só terá emprego pra mim daqui a duzentos anos, vou estar morto.
- Bem, então lhe digo o que fazer. Venha se reunir com nosso grupo. Algum dia em alguma hora em algum lugar.
- Como assim?
- Nosso grupo é tão secreto que não especificamos datas nem horas nem lugares. O primeiro encontro será ao total acaso. Estamos juntos há 17 anos e nunca nos encontramos, tomara que nossa sorte mude.
- Como assim? Vocês apenas imaginam um lugar, aparecem lá e torcem para os outros pensarem no mesmo lugar?
- É. Encontrei Moussagè um dia. Mas nós dois não poderíamos pensar em nada. Se ao menos fossemos três.
- Vocês são o grupo mais furado que existe.
- Bem. Furado ou não, já temos um aperto de mão secreto.

Múúúúúúú

- O que foi isso?
- O quê?

*****

- Finalmente, acaba aqui. Odeio quando o autor coloca esses diálogos entre uma parte do post e outra. Ficamos esperando sem fazer nada.
- Cara, você é um átomo de carbono.
- Hã? Droga, é cada ideia que sai da cabeça desse filho da puta quando tá escrevendo.
- E tem mais: sou um átomo de hidrogenio e vou fazer ligação em você. Mas antes chamarei meus três outros amigos para ligarmos todos os elétrons.
- Não, sai sai... O que eu fiz para merecer isso?

Múúúúúúúú

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