sexta-feira, 18 de março de 2011

Estava conversando um dia desses com Luis Fernando Veríssimo e Alberto Lins Caldas:


- Bem, eu suponho que devemos abrir uma discussão sobre o Horror na literatura: Moby Dick, O Coração das Trevas, essas obras.
- Ou então podemos falar de labirintos, Brasil de hoje em dia, a situação da China.
- A hermenêutica do Brasil. hum. Coisas da Máquina Tribal.
- Máquina o que?
- Máquina tribal.
- É uma teoria da história que ele tá desenvolvendo e tal.
- Quem é você?
- Eu sou o Franco Blackbird.
- Nunca ouvi falar.
- ...
- Ulysses é um bom exemplo de horror, não acha?
- Como assim horror?
- Não sei, pode ser o horror alienante, o horror pessoal, a descrição de uma sociedade horrorizada, você lê Ulysses e sai da obra vazio, ela nada te ensina.
- Já lesse Ulysses, Franco?
- Do James Joyce?
- Sim.
- Não...
- Ah.
- Enfim... Jorge Luiz Borges.
- Não acho Horror.
- Labirintos não são horrorosos?
- Dependendo de onde está.
- Como dependendo se todo local do labirinto é um lugar que não é lugar, não existe o conceito de "ponto" no labirinto, nada é o que parece ser.
- Bem, depende do lugar.
- Que lugar?
- Dentro ou fora do Labirinto.
- ... é verdade.
- E você Franco?
- Nunca entrei num labirinto.
- Estamos falando do Jorge Luiz Borges.
- Nunca li.
- Ah.
- Hum...
- Quem te chamou héim?
- Eu sou o dono desse prédio.
- Pensei que era o Monte Pitão.
- É. tipo, a gente usufrui.
- Esse prédio é um labirinto?
- Não.
- É uma selva vietnamita?
- Não.
- É um oceano?
- Não.
- Que merda!
- POis é, né?
- Quer saber? Eu vou sair daqui, Italo Calvino e Nabokov estão me esperando. Vamos tocar café ao lado do Salgadinho, quem vomitar primeiro tem que recitar um verso de Renato Russo.
- Eu vou pra casa, ninguém nessa cidade entende ou quer entender a Máquina Tribal, mas eu não tenho culpa, isso são coisas da Máquina Tribal.
- Eu... acho... que vou ficar aqui, tenho que finalizar esse post.
- O que é Máquina Tribal?
- É aquilo que vai te fazer vomitar primeiro e recitar um verso de Cazuza.
- Renato Russo.
- Mesma merda.
- Enfim, vamos?
- Pera, posso chamar um amigo.
- Claro, quem?
- Nietzsche.


Luiz Fernando Veríssimo sai alegremente, conversando com Alberto Lins Caldas sobre Renato Russo, Cazuza, Máquina Tribal e teoria da hermenêutica literária do presente em forma de prosa e pós-modernismo exacerbado de jornais burgueses.

________________

Definam tempo: como essa criação européia, que acabou se tornando suprema, deve ser quebrada? Como Marx, em suas obras, desde a Ideologia Alemã até O Capital, vê [estuda] o tempo, como o tempo vai ser colocado em suas teorias da história? Se é que elas são tratadas.

O que é o tempo para relatar uma história latino-americana que foi totalmente criada por mãos européias, uma antropologia européia, documentos europeus. Nossa noção de tempo foi consumida por uma européia. Nós tínhamos noção de espaço, nosso espaço, nosso fazer antropologia histórica, nossos devires, nossas ações criadas e mortas no exato momento que foi criado e morto para ser reciclado em outra ação que morreu e criou outra até o exato momento que estou escrevendo. Nosso presentismo, ou nosso passado, nosso "futuro"? continuará sendo regido pelo tempo, espaço, filosofia, pensamento, sociedade, cidades, estados, horrores, alegrias, costumes, roupas, armas, alimentos, literaturas, histórias européias? Nós não obedecemos a uma "ordem natural" de evolução, aquilo que Darwin e Comte colocaram para exemplificar as sociedades primitivas e a evolução do mais forte e a supressão do mais fraco. Fomos arrancados de nossa linha histórica - NOSSA, não deles, esqueça o posicionamento ideológico deles para a nossa história antes de 1492 - fomos forçados a "queimar", "destruir", "estragar", "demonizar", "não viver", "matar" "anular" aspectos que teríamos criado se andássemos por nossos próprios pés, não importa quanto tempo demoraria. Você pode falar que graças aos Europeus queimamos várias etapas de forma de sociedade. Que etapas? Você acha mesmo que a américa Latina teria vivido um feudalismo após um ato louco e desvairado de "civilização" dos indígenas de acordo com os moldes europeus? Nossa geografia não permitiria. Graças a eles é que estamos aqui. E eu ainda sou sortudo. Não escrevo isso para "os outros", como a maioria de vários jornalistas, historiadores, sociólogos, blogueiros, antropólogos fazem. Escrevo para nós. Escrevo para uma America Latina.




Franco Blackbird. Da série: Sem Tags

Nenhum comentário:

Postar um comentário